A água batia nas rochas violentamente, mesmo assim o mar acalmava-me, fazia-me sentir serena. O tempo já tinha escurecido, mas o roxo do pôr-do-sol ainda se reflectia na areia. Ele tinha adormecido encostado ao meu ombro. Sorri, já tinham passado quatro anos desde do inicio da nossa amizade, e que quatro anos! Já tínhamos passado tanta tristeza, tanta alegria, tantas zangas, mas continuávamos os mesmos malucos desde do primeiro dia.
Os seus pequenos suspiros preenchiam o barulho do mar no silêncio da noite. Este cenário era-me familiar, já tão familiar.
O telemóvel toca. Era a mãe. O jantar estava pronto.
-“Diz à sogrinha que ponha mais um pratinho para mim.”
Tinha ele acordado com o barulho do telemóvel.
-“Achas que ela se ia esquecer de ti parvinho?”
Ele beijou a minha testa, “beijo de juízo”, como ele me costuma dizer, como eu tivesse pouco. Abraçou-me.
-“Estás gelada! Não tens frio?”
Ele tinha razão, a minha pele estava fria, mas eu não tinha dado por ela. Ainda era o inicio da primavera, as noites ainda eram frias mas eu tinha-me esquecido de trazer o casaco, estava na mala do carro.
Sinto uma camisola nas pernas.
-“Veste. Não te podes constipar.”
Visto a camisola, era-me grande mas sentia como me servisse perfeitamente. Cheirava ao seu perfume, Armani, o presente que lhe tinha dado no seu último aniversário.
Ele deitou a sua cabeça no meu colo.
-“Tenho preguiça.”
-“Já nasceste com preguiça, conta-me algo de novo…”
-“Novo? Hmmmm, estás muito bonita assim com a minha camisola!”
Sorri.
-“Hahaha. É mesmo a minha cor não é? É minha agora!”
Ponho a língua de fora.
-“Pronto, ela é tua por hoje.”
Faço-lhe festinhas no cabelo. Estava grande, mas gostava de o ver assim.
Fecha ele os olhos.
O telemóvel toca.
-“Vamos embora antes que a sogrinha me bata.”
Andamos até o carro, o braço dele à minha volta. Sentia-me pequena, mas sentia-me bem.
Abre-me a porta e sento-me.
Ligo o carro.
Ele senta-se.
Partimos.
(…)
Saímos, depois do jantar. A pé. A caminhada do costume.
-“Tenho a barriga mesmo cheia. A tua mãe sabe conquistar-me, sabes?”
-“Cheira-me que vou ter um padrasto.”
-“Hahaha, primeiro tinha que me casar contigo.”
-“De que estas a espera?”
-“De ganhar o dinheiro para te dar o diamante que tanto queres.”
Sorri.
Flashback:
À 2 anos atrás, no casamento da prima Maria, estavamos sentados na mesa com um jovem casal que estava noivo.
-“Ai, Fi, quero um diamante igualzinho a este. É perfeito!”
-“Pronto, eu compro-te um igual.”
-“Prometes?”
-“Prometo.”
Presente
Após o jantar, fomos ao jardim onde costumamos ir e sentei-me no banco do costume. Ele senta-se no meu colo.
-“Hoje sou o bebé.”
-“Sempre foste o meu bebé.”
Sorri.
Ele fixa o seu olhar num gato que estava no outro lado do jardim.
-“Posso te fazer uma pergunta?”
-“Podes.”
-“Amanhã. De manhã. És minha não és?”
-“Sempre fui. Sou agora até, não vês?”
-“Sabes que não foi isso que eu quis dizer. Amanhã vens ter comigo?”
-“Claro!”
Ele olha seriamente nos meus olhos.
-“Deixas-me fazer uma coisa?”
-“O quê?”
-“Deixas?”
Hesitante, respondo.
-“Podes claro.”
Não reparei no que ele fez, fiquei pasmada. Os lábios dele eram doces, acolhedores. Nunca me tinha sentido tão confortável.
Fiquei sem palavras e beijei-o de volta.
Silêncio.
Eu não sabia o que dizer. Estava preenchida.
Ele pegou na minha mão que estava a tremer. Encostei a minha cabeça no seu ombro.
(…)
Chegamos ao carro dele.
Ele abraçou-me, um abraço longo.
Voltou a beijar a minha testa.
-“Amanhã estarei a tua espera.”
Filipe pisca-me o olho.
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