Acordo.
Estava no sofá.
Parecia que tinha acordado de um pesadelo, doía-me o corpo inteiro.
Vejo o Sr. Rui, o pai do Filipe, à porta da sala.
Ele tinha os olhos inchados.
-“Filhinha, como te sentes?”
-“Como se o mundo tivesse caído em cima de mim. O Filipe já chegou?”
Ele olha para mim pasmado,
-“ Não te lembras…?”
Vem me tudo à cabeça, o corpo, a linha, o ladrar.
Escondo a cabeça debaixo da manta.
-“Pensava que era um pesadelo…”
Oiço o barulho distante da sirene da ambulância.
-“Ele ainda…”
-“ Não. É para ti.”
Ponho-me em pé.
-“ Não preciso de ambulância nenhuma. Preciso de o ver. Por favor. Preciso…”
Enquanto caminho para a porta começo a chorar, mas ele impede a minha tentativa de sair da sala.
-“Não saias daqui. Por favor. Já se perdeu demasiado hoje.”
Sinto o meu corpo débil. Não consigo sentir as minhas pernas. Caio no chão.
-“Não acredito… aquilo era um pesadelo!”
Sinto umas mãos a volta dos meus ombros.
-“Ele foi egoísta.”
Olho para cima.
Os olhos dele estavam frios como a pedra.
Nunca o tinha visto assim.
Mas ele tinha razão.
O Filipe tinha acabado com tudo.
Choro.
Batem à porta. Era a ambulância.
Pegaram em mim.
Nem luto.
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