quarta-feira, 30 de junho de 2010

Ao fazer um mês

Abro os olhos, vejo as rasgas de sol que saem pela cortina fechada.

Mais um dia, mais um dia insignificante.

Fecho os olhos mais uma vez.

Tenho sono.

Quero dormir.

Oiço barulho do quarto ao lado, era a minha mãe.

Batem a porta. Entra ela. Abre as cortinas.

-“Filha, sai da cama. Faz-te útil.”

Levanto-me.

Visto-me.

Sento-me a mesa.

Tinha o diário na secretária desde da noite anterior. A dor era tanta, que nem deu para acabar.

Faz um mês desse da tragédia. Neste passado mês, ainda não tinha visitado a campa. Não tenho coragem.

Hoje era o dia.

Hoje era o dia que eu digo o adeus final.

Fecho o diário. Trago-o comigo.

Entro no carro e conduzo.

(…)

Chegar ao cemitério não era difícil. Difícil é entrar.

Estaciono e olho para a porta. Parecia que estava a um quilómetro de distância. As minhas pernas ficam imóveis. Respiro fundo.

-“Tenho que fazer isto.”

Saio do carro e caminho até a porta.

Sabia o caminho de cor, apesar de única ter entrado.

Depois de alguns metros paro. Viro-me para a direita. Lá esta.

A campa.

Ajoelho-me.

Parece que o meu coração congela.

O que digo?

Respiro fundo.

-“Há tanta coisa que eu possa te dizer. Estou magoada? Claro que estou. Quem não esta. Acho que és egoísta? Acho. Muito. Há algo que eu possa fazer agora? Não. Agora tenho a certeza que não. Tenho saudades tuas. Foste e és importante para mim. Sempre serás. Mas escolheste o teu caminho. Agora vou escolher o meu.”

Não consigo chorar. Já não há lágrimas para chorar.

Lembro-me. Olho para a minha mão. Lá estava. O meu diário.

Deixo-o na campa.

-“Thanks for the memories.”

Viro costas.

E sigo com a minha vida.